Salão ViaGomide
Salão de beleza. Vaidade, vaidade, tudo é vaidade?
O ano era de 1986. Estou sentada na rampa do pátio da escola Santo Tomaz de Aquino. Ao meu redor, um grupo de amigas, o mesmo que há séculos se reúne todos os anos dois dias antes do Natal para comemorar a vida e a amizade. Flávia Gomide está sentada atrás de mim. Meu cabelo é longo. Ela fala que vai fazer-me uma trança. Mas o que ela faz no meu cabelo não é uma simples trança. É um trançado outro, um penteado inédito, diferente até então de tudo que eu conhecia como trança. Onde será que ela tinha aprendido a fazer aquilo? Até hoje nunca lhe perguntei. Acho que ela já aprendeu sabendo.
Agora, o ano é o final de 1999. Flávia abriu uma sala lá na rua do Ouro. Ainda não era um salão. Era uma salinha escondida, ao fim de um edifício muito antigo e muito charmoso. Um cantinho que tinha ao fundo um pequeno mezanino. Ali cabia o tamanho exato de uma rede. Era um espaço iluminado com vistas para a rede. Uma rede baiana, também trançada. Era o bom gosto da Flávia misturado ao bom gosto da Meire Gomide, reunidos. Era uma faísca de ouro que naquela rua já luzia.
Foi ali que eu disse: “Vou me casar no começo do ano que vem, amiga! Você me arruma?”.
Naquele tempo as mulheres costumavam ficar muito feias no dia de seus casamentos. Todas inventavam de fazer um coque, penteado que nunca usavam no seu dia a dia, e pintavam os rostos de maneira irreconhecível. Eu queria me casar com a minha cara mesmo, meu cabelo solto e alguma naturalidade. A Flávia também acreditava nisso. Que a maquiagem servia para realçar o que de melhor a gente tinha e não fazer de nós outra pessoa. E foi com essa maquiagem que não era camuflagem, com essa maquiagem que era revelação, que me reconheci.
De lá para cá já se passaram 23 anos, e toda vez que precisei ir um salão, eu fui e vou lá. Hoje já não é mais uma salinha. É um espaço maior, tão charmoso como o inicial. E é sempre uma alegria esse convívio. Volto para casa sempre mais bonita.
Vaidade, vaidade, tudo é vaidade?
Talvez tudo seja uma questão de Ser. De tempos em tempos eu preciso me arrumar para me lembrar quem eu sou.
Porque o tempo passa, as feições se modificam, mas a beleza realçada no reconhecimento do estilo e dos traços de cada um, assim como a amizade, continua.
Paula Vaz